CONFERÊNCIA
Democracia e a Nova Onda Progressista na América Latina
Da Experiência Boliviana às Eleições no Brasil
Madri, Espanha | 12 de setembro de 2022

A chamada “maré rosa” de governos progressistas na América Latina foi um marco no desenvolvimento dos povos e das lideranças da região a partir dos anos 2000. Em pouco tempo, a onda reacionária que surgiu em resposta restaurou governos conservadores na maior parte da região, revivendo o velho fantasma dos golpes de Estado, embora com mecanismos renovados. Hoje, após uma nova oscilação do pêndulo, a América Latina está vivendo um momento político que parece anunciar o retorno do progressismo às instituições, mas com a ameaça de uma nova reação, perigosamente determinada, ainda mais agressiva e sofisticada, que busca cortá-la. Em um contexto de crescente polarização, marcado pela instrumentalização dos poderes públicos e da justiça, pelos chamados “golpes brandos” e pela desinformação, a resposta das forças reacionárias ameaça ir do enfraquecimento dos princípios democráticos à sua completa impugnação.
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Como a democracia brasileira resistirá às tentativas de deslegitimação e aos apelos de insurreição da ultradireita? O que pode contribuir a experiência da Bolívia, que, depois de se refundar completamente, foi vítima de um golpe de Estado que questionou a solidez de sua soberania reconfigurada? Como reconstruir a confiança e a esperança em projetos coletivos no atual clima de tensão e extremismo? Como desarmar as narrativas e as elites que clamam por tempos que não deveriam voltar?
1ª SESSÃO
O Brasil na encruzilhada: crise democrática e cenários eleitorais
Segunda-feira, 12.09.2022 | 17:00hs – Sala María Zambrano, Círculo de Bellas Artes
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Desde que uma elite conservadora questionou a vitória legítima de Dilma Roussef nas eleições de 2014, o Brasil mergulhou em uma dramática crise política marcada por sucessivos golpes de Estado. Após o impeachment em 2016 e a instalação de um governo provisório comprometido com várias oligarquias, houve a prisão ilegal do ex-presidente Lula da Silva em 2018 e a vitória eleitoral do ultradireitista Jair Bolsonaro. Desde então, o retrocesso da institucionalidade democrática e dos direitos humanos levou o Brasil a se tornar uma plataforma para a extrema direita global, com efeitos devastadores nas agendas sociais e ambientais. A democracia brasileira continua a ser atacada e vilipendiada por forças autoritárias e reacionárias ligadas a Bolsonaro, muitas vezes com o apoio de importantes setores militares, empresariais e religiosos, em uma combinação extravagante de fanatismos.
A campanha para as próximas e decisivas eleições já começou, envolta em violência política e desinformação. Nesse contexto de ataques à confiança no sistema eleitoral e tentativas trumpistas do partido governista, é fundamental que o mundo inteiro, especialmente a região latino-americana, cerre fileiras em defesa da democracia e da vontade do povo.
Esta sessão tem como objetivo analisar os riscos —e os possíveis cenários antes e depois das eleições de 2022— e refletir sobre a necessidade de um movimento de garantia democrática por parte da sociedade civil global para assegurar que o resultado das urnas seja respeitado. Em última análise, o painel tem como objetivo conclamar a solidariedade internacional para evitar outro golpe de Estado que não só prejudicaria o Brasil, mas também o resto da América Latina e o mundo.
Jean Wyllys (Brasil) – Izadora Brito (Brasil) – Denise Dora (Brasil)
Moderador:
Paulo Abrão (Brasil)
Eles estão de volta e são milhões, O processo de mudança na Bolívia e suas implicações regionais
[Colóquio baseado no livro Volvieron y son millones, El proceso de cambio en Bolivia (2005-2020), Akal]
Segunda-feira, 12.09.2022 | 18:30hs – Salão María Zambrano, Círculo de Bellas Artes
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“Evo Morales Ayma é o primeiro presidente indiano eleito na América do Sul. Um ocidental não pode avaliar completamente o que esse evento significa para os povos andinos”. Foi isso que o ex-relator da ONU Jean Ziegler escreveu em 2006 sobre a primeira vitória eleitoral do MAS na Bolívia, que transformou radicalmente o país. Do Estado colonial ao governo popular, o processo de mudança na Bolívia não apenas expandiu a democracia por meio de uma dupla governança (eleitoral e de rua), mas também implicou uma revolução cultural que transferiu para o poder formas organizacionais indígenas, eminentemente deliberativas e comunitárias.
Esse processo de construção estatal e plurinacional, de revisão coletiva da história e de suas liturgias, é, sem dúvida, um espelho para se olhar qualquer país que decida empreender uma refundação nacional, uma reelaboração de sua estrutura de convivência ou uma releitura de suas leis e de seu passado. Nesse sentido, ter os testemunhos de alguns dos protagonistas da experiência boliviana torna-se uma oportunidade valiosa para países como o Chile, que hoje enfrenta um desafio semelhante.
Da mesma forma, o golpe de Estado perpetrado na Bolívia em 2019 demonstrou que as vitórias eleitorais correm o risco de serem contestadas e revertidas, e que é tão importante vencer nas urnas quanto nas ruas e no senso comum das sociedades. Assim, a Bolívia se torna um conto de advertência para países como o Brasil; um lembrete de que a luta pela igualdade muitas vezes gera reações conservadoras daqueles que resistem a perder seus antigos privilégios.
Esta sessão tem como objetivo, com base em pesquisas e experiências pessoais, fazer uma retrospectiva do caso boliviano e tirar lições para o restante da região, com base no respeito à diversidade e na vontade emancipatória que caracterizou seu processo constituinte.
Álvaro García Linera (Bolívia) – María Lois (Espanha) – Guillaume Long (Equador)
Moderador:
Rafael Heiber (Brasil)
Boas-vindas institucionais:
Jesús Espino – Editor de Akal
Participantes

Paulo Abrão
1ª SESSÃO – MODERADOR
Paulo Abrão é um advogado brasileiro, ex-secretário executivo da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Doutor em Direito, foi também Secretário Executivo do Instituto Mercosul de Políticas Públicas em Direitos Humanos, além de Secretário Nacional de Justiça, Presidente do Comitê Nacional para Refugiados e do Comitê Nacional contra o Tráfico de Pessoas no Brasil. Atualmente, dirige o Escritório de Washington no Brasil.

Izadora Brito
1ª SESSÃO – PAINELISTA
Izadora Brito é uma advogada brasileira, Coordenadora Nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Secretária Nacional de Movimentos Sociais do PSOL, é membro da Frente Parlamentar pela Reforma Urbana no Congresso Nacional e membro da Executiva Nacional da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD). É membro do Conselho Consultivo do Washington Office Brasil.

Denise Dora
1ª SESSÃO – PAINELISTA
Denise Dora é uma advogada brasileira e defensora dos direitos humanos. Diretora Regional da Artego19, uma organização dedicada à liberdade de expressão e informação, ela também é cofundadora da THEMIS, uma organização que promove projetos de gênero, justiça e direitos humanos. De 2015 a 2017, foi Ouvidora do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil).

Jean Wyllys
1ª SESSÃO – PAINELISTA
Jean Wyllys é um jornalista e ativista brasileiro. Foi deputado federal no Brasil por duas legislaturas e renunciou a uma terceira por motivos de segurança, após receber ameaças de morte da comitiva do presidente Jair Bolsonaro. Ativista LGTBI e escritor premiado, exilou-se na Europa, onde atualmente é doutorando em Ciência Política na Universidade de Barcelona e pesquisa fake news.

Rafael Heiber
2ª SESSÃO – MODERADOR
Rafael Heiber é cofundador e vice-presidente do Common Action Forum. Geógrafo e climatologista, mestre em Planejamento Territorial e doutor em Sociologia, é especialista nos vínculos políticos entre tecnologia, cidadania e território. Além de suas atividades acadêmicas e de pesquisa, ele também é consultor jornalístico, comentarista e colunista de vários meios de comunicação internacionais.

Álvaro García Linera
2ª SESSÃO – PAINELISTA
Álvaro García Linera é um político e intelectual boliviano, vice-presidente da Bolívia durante os governos de Evo Morales. Teórico marxista, ensaísta e colunista prolífico, foi membro do movimento guerrilheiro Ayllus Rojos e do Exército Guerrilheiro Tupak Katari durante a década de 1990. Passou cinco anos na prisão por motivos ideológicos e, desde sua libertação, é membro do MAS-IPSP, fazendo parte do governo indigenista e popular que transformou a Bolívia.

María Lois
2ª SESSÃO – PAINELISTA
María Lois é PhD em Ciência Política pela Universidade Complutense de Madri. Ela tem mais de 20 anos de experiência em ensino e pesquisa nas áreas de Geografia Política, Geografia Cultural e Geopolítica. Autora de vários livros e artigos acadêmicos, publicou recentemente uma pesquisa rigorosa sobre o processo de mudança na Bolívia que levou o primeiro indígena da história do país à presidência.

Guillaume Long
2ª SESSÃO – PAINELISTA
Guillaume Long é um acadêmico e político franco-equatoriano. Foi Ministro das Relações Exteriores, Ministro da Cultura e do Patrimônio e Ministro Coordenador do Conhecimento e do Talento Humano durante os governos de Rafael Correa no Equador. Historiador e analista especializado em relações internacionais, foi também Representante Permanente do Equador nas Nações Unidas.

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